Prisão não se decide em pesquisa
Porque prisão não se decide em pesquisa. Prisão é consequência de crime provado, de processo legal e de sentença fundamentada. Transformar o sistema penal em plebiscito seria institucionalizar a barbárie.
OPINIÃO
Redação
8/30/20251 min read


A pesquisa da Quest trouxe um dado que, à primeira vista, parece surpreendente: em Santa Catarina, reduto eleitoral mais fiel a Jair Bolsonaro, 55% da população considera justa sua prisão domiciliar, contra apenas 33% que a consideram injusta. É o tipo de número que chama a atenção porque confronta a lógica eleitoral – a do voto consolidado – com a lógica judicial, que se alimenta de fatos e provas.
Mas é exatamente nesse ponto que a análise precisa ganhar profundidade. Porque, ao fim e ao cabo, prisão não é plebiscito. Prisão não se decide em sondagens, nem deve se sustentar no clamor das ruas ou nas oscilações da opinião pública. Se assim fosse, a justiça se converteria em espetáculo, e o Estado de Direito estaria reduzido a uma caixa de ressonância das maiorias momentâneas.
O argumento pode soar óbvio, mas é necessário reiterá-lo em tempos de tanta confusão entre narrativa e norma, entre política e processo. A opinião pública tem valor na democracia, mas não pode substituir o devido processo legal. Pesquisas ajudam a medir o humor social; não têm competência para determinar a liberdade ou a restrição de alguém.
No entanto, não se deve desprezar o dado. Ele sinaliza que até em regiões de maior apoio a Bolsonaro há uma disposição da sociedade em reconhecer o peso das acusações e dos processos. Isso desmonta a tese de uma blindagem incondicional do ex-presidente por parte de seus eleitores mais fiéis. E, nesse sentido, revela um desgaste político que, ainda que não seja jurídico, é impossível de ignorar.
Em síntese, a pesquisa fala sobre a política. O processo fala sobre a justiça. Confundir os dois campos é uma tentação perigosa. A justiça não deve se curvar à opinião pública — mas a política, inevitavelmente, terá que prestar contas a ela.