Preso denuncia agressão em penitenciária; indícios apontam para tentativa de extorsão com conivência de agentes
O caso do detento Yuri Guimarães Soares, de 32 anos, agredido dentro do Presídio Joaquim Ferreira de Souza, em Bangu, vai muito além de uma denúncia de violência institucional. Os relatos e as circunstâncias do episódio sugerem a prática de extorsão dentro do sistema penitenciário
ABUSO DE AUTORIDADES
Redação
8/26/20252 min read


O caso do detento Yuri Guimarães Soares, de 32 anos, agredido dentro do Presídio Joaquim Ferreira de Souza, em Bangu, vai muito além de uma denúncia de violência institucional. Os relatos e as circunstâncias do episódio sugerem a prática de extorsão dentro do sistema penitenciário, um modus operandi que se aproxima do controle miliciano em estruturas do Estado.
Yuri não é um preso comum. Ele foi flagrado anteriormente com mercadorias eletrônicas contrabandeadas, avaliadas em milhares de reais. Esse perfil – de alguém ligado ao comércio ilegal e com capacidade financeira – o coloca em posição vulnerável diante de agentes que enxergam nesses presos uma fonte de renda. Dentro das cadeias, ameaças de transferência para unidades mais severas ou distantes da família têm sido utilizadas como instrumento de pressão para arrancar vantagens econômicas.
O episódio
Segundo testemunhas, agentes ingressaram na cela de Yuri sob a alegação genérica de “irregularidades”. Nada foi encontrado. Ainda assim, o preso foi retirado algemado, levado a uma sala de segurança, onde sofreu xingamentos, agressões físicas e ameaças de transferência.
O que reforça as suspeitas de corrupção é que:
A denúncia não partiu da família, mas sim do próprio diretor da unidade, Lenilson Santiago Soares, e de seu subdiretor, que presenciaram a cena e intervieram para cessar as agressões;
Outros presos também presenciaram os fatos, fortalecendo a consistência da versão;
Há câmeras de segurança no local, capazes de comprovar o episódio;
O registro de entrada de dois coordenadores e um superintendente mostra que eles acessaram a área sem justificativa formal, extrapolando suas atribuições.
É importante destacar que a apuração de irregularidades em celas não é competência de coordenadores, mas sim da área de inteligência e da Corregedoria. Ou seja, a entrada dos agentes no espaço só se sustenta como ato arbitrário – ou como ação movida por interesse pessoal.
A versão oficial em xeque
Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária afirmou que “o caso está sendo apurado” e que “eventuais irregularidades levarão a medidas cabíveis”. Mas a declaração oficial soa insuficiente diante da gravidade dos elementos já apresentados. Se a própria direção da unidade confirmou a violência, se há testemunhas e câmeras, e se os registros de entrada evidenciam a presença irregular dos agentes, a linha de defesa da pasta perde consistência.
Milícia e sistema penitenciário
As denúncias revelam uma dinâmica típica do poder paralelo exercido por milicianos: uso da estrutura estatal para subjugar economicamente presos que possuem poder financeiro, transformando a prisão em espaço de chantagem e arrecadação. Nesse contexto, a ameaça de transferência deixa de ser apenas um recurso administrativo e se converte em moeda de extorsão.
O caso de Yuri Guimarães Soares, portanto, não deve ser lido apenas como mais um episódio de violência carcerária. Ele se insere em um cenário maior: o da infiltração de práticas criminosas dentro do sistema penitenciário, onde agentes transformam cargos públicos em instrumentos de poder e lucro.