Narrativas perigosas: quando a falta de transparência alimenta a desconfiança no STF e no Executivo”
A legitimidade das instituições democráticas não depende apenas de sua força formal, mas também da confiança que inspiram na sociedade. Quando autoridades aparecem em situações pouco claras — como visitas a áreas dominadas por facções ou quando familiares atuam em setores envolvidos em investigações — abre-se espaço para narrativas corrosivas
MATÉRIA DE OPINIÃO - CENÁRIO INTERNACIONAL
Artigo de opinião
9/2/20252 min read


“Narrativas perigosas: quando a falta de transparência alimenta a desconfiança no STF e no Executivo”
A legitimidade das instituições democráticas não depende apenas de sua força formal, mas também da confiança que inspiram na sociedade. Quando autoridades aparecem em situações pouco claras — como visitas a áreas dominadas por facções ou quando familiares atuam em setores envolvidos em investigações — abre-se espaço para narrativas corrosivas, que não encontram comprovação, mas prosperam justamente pela ausência de respostas transparentes.
A visita à Maré e a simbologia da insegurança
Reportagem da Gazeta do Povo mostrou que a entrada de Flávio Dino, então ministro da Justiça, no Complexo da Maré teria sido impossível sem anuência tácita do crime organizado, segundo policiais ouvidos de forma reservada. O evento ocorreu sem escolta visível ou operação policial, em um território onde nem forças de elite circulam sem blindados.
Ainda que não haja prova de irregularidade, a simbologia da cena deixou para parte da população uma dúvida incômoda: como uma autoridade consegue entrar onde o próprio Estado só avança com baixas?
Famílias, negócios e a percepção de conflito de interesses
Outro ponto que gera desconforto é a participação de familiares de autoridades em empresas ou escritórios que atuam em setores sob suspeita de infiltração criminosa. Mesmo que dentro da legalidade, o simples fato de não haver explicações claras fortalece interpretações negativas. O problema não é apenas o conflito de interesses em si, mas a aparência de que ele existe — e, em política e Justiça, a aparência já tem peso suficiente para corroer a confiança pública.
Quando silêncio vira combustível
Em tempos de polarização, narrativas encontram terreno fértil. A ausência de protocolos claros e de comunicação transparente transforma lacunas em certezas para parte da sociedade. Assim surgem interpretações de que o Judiciário ou o Executivo estariam, de algum modo, “capturados” por interesses alheios.
Não é necessário que isso seja verdade — o simples fato de parecer plausível já é suficiente para abalar a legitimidade institucional.
Conclusão
O Brasil não pode se dar ao luxo de conviver com sombras sobre as instituições que sustentam sua democracia. Se há visitas a áreas sensíveis, que haja transparência sobre segurança e objetivos. Se há familiares em setores delicados, que se publiquem regras de conduta para evitar dúvidas.
Não se trata de acusar, mas de prevenir. Porque no vácuo da explicação oficial, narrativas conspiratórias ganham força — e nelas, quem perde não são indivíduos, mas a democracia inteira.