Dossiê Zargun e Bandeirantes: como políticos, policiais e criminosos se uniram em um império paralelo no Rio
Na manhã de 3 de setembro de 2025, duas operações simultâneas abalaram as estruturas do crime e da política no Rio de Janeiro. A Operação Zargun, da Polícia Federal, e a Operação Bandeirantes, da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO-RJ), em conjunto com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), miraram não apenas traficantes, mas também um deputado estadual, um delegado da PF, ex-secretários de governo e policiais militares.
Redação - Fonte - O Globo
9/4/20253 min read


O cerco ao Comando Vermelho
Na manhã de 3 de setembro de 2025, duas operações simultâneas abalaram as estruturas do crime e da política no Rio de Janeiro. A Operação Zargun, da Polícia Federal, e a Operação Bandeirantes, da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO-RJ), em conjunto com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), miraram não apenas traficantes, mas também um deputado estadual, um delegado da PF, ex-secretários de governo e policiais militares.
O alvo comum era o Comando Vermelho (CV), facção que, segundo as investigações, vinha expandindo seu arsenal bélico com armas de guerra e até antidrones importados, em clara tentativa de neutralizar a vigilância aérea das forças de segurança.
Linha do tempo da investigação
2008 – O delegado Gustavo Stteel é investigado na Operação Resplendor e punido por abuso de autoridade.
2023–2024 – Avançam negociações de armas e antidrones para áreas dominadas pelo CV, como Alemão e Maré.
Início de 2025 – PF, MPRJ e PCERJ consolidam provas de que políticos e servidores públicos atuavam como braço financeiro da facção.
03/09/2025 – Deflagradas as operações Zargun e Bandeirantes; são presos TH Joias, Dudu, Índio do Lixão, Gustavo Stteel, Alessandro Pitombeira e PMs.
04/09/2025 – Imprensa revela o padrão de vida de luxo de Stteel e a proximidade pública entre ele e TH Joias.
Quem é quem no esquema
Núcleo político
Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias — Deputado estadual (ex-MDB), preso.
→ Acusado de intermediar compras de drogas, armas e antidrones, além de lavar dinheiro em empresas de fachada.Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o Dudu — Assessor da Alerj, preso.
→ Fornecedor e instrutor de antidrones, com uso da estrutura parlamentar para blindar a operação.
Núcleo criminoso
Gabriel Dias de Oliveira, o Índio do Lixão — Traficante do CV, preso.
→ Operador logístico e financeiro, movimentou cerca de R$ 120 milhões em cinco anos.Luciano Martiniano, o Pezão — Chefe do CV no Complexo do Alemão, foragido.
Edgar Alves de Andrade, o Doca — Liderança do CV, alvo foragido.
Manoel Cinquine Pereira, o Paulista — Ligado ao CV, alvo foragido.
Núcleo estatal cooptado
Gustavo Stteel — Delegado da PF, preso.
→ Suspeito de vazar informações sigilosas sobre operações e facilitar movimentações da facção.Alessandro Pitombeira Carrasena — Ex-secretário de Esporte e Ordem Pública do RJ, preso.
→ Investigado como elo político-administrativo.Policiais militares (3 identificados e outros sob investigação) — Presos.
→ Atuavam em escoltas e proteção de traficantes.
O elo entre luxo e crime
Enquanto o CV consolidava suas rotas de armas, o delegado Gustavo Stteel exibia nas redes sociais uma vida de glamour: viagens internacionais, relógios de luxo e festas. Seu círculo social incluía diretamente TH Joias, que chegou a confeccionar o anel de noivado de sua noiva. Essa relação pessoal, agora sob escrutínio judicial, evidencia como os mundos da política, do crime e da polícia se entrelaçaram.
O que vem pela frente
As operações bloquearam R$ 40 milhões em bens e abriram caminho para novas denúncias. Os investigadores acreditam que a análise de celulares, computadores e documentos apreendidos pode revelar outros nomes de servidores públicos e políticos envolvidos.
Do lado criminal, a captura de Pezão, Doca e Paulista é considerada prioridade máxima. Já no campo político, cresce a pressão sobre a Alerj, que deverá se posicionar sobre a prisão de TH Joias e a possível cassação de seu mandato.
Conclusão
A Operação Zargun expõe mais do que um esquema criminoso: mostra um conluio institucionalizado entre facção, políticos e agentes públicos. No momento em que as investigações avançam, uma pergunta paira sobre o Rio: quantos outros estão, ainda, no subterrâneo dessa engrenagem?