Dentro do Narco-Estado: corrupção e conluio no sistema penitenciário do Rio de Janeiro

Documentos oficiais, relatórios internos e imagens de câmeras de segurança revelam um esquema de corrupção enraizado dentro da Secretaria de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro (SEAP). A rede criminosa envolve diretores de presídio, subdiretores, policiais penais e até a corregedoria da pasta — justamente o órgão responsável por investigar e punir irregularidades.

O CRIME ORGANIZADO

Redação

8/26/20254 min read

O escândalo por trás dos muros

Documentos oficiais, relatórios internos e imagens de câmeras de segurança revelam um esquema de corrupção enraizado dentro da Secretaria de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro (SEAP). A rede criminosa envolve diretores de presídio, subdiretores, policiais penais e até a corregedoria da pasta — justamente o órgão responsável por investigar e punir irregularidades.

O caso, que ficou conhecido nos bastidores como “Folia”, expõe como o sistema prisional fluminense, em vez de combater o crime organizado, se converteu em sua extensão — um braço institucionalizado do narco-Estado brasileiro.

O epicentro do escândalo: a apreensão abafada

Em 17 de setembro de 2023, o Presídio Nelson Hungria, em Bangu, registrou a maior apreensão já feita dentro de uma unidade prisional do Rio:

  • 70 celulares e acessórios;

  • 20 quilos de drogas, escondidos em marmitas destinadas aos presos.

O flagrante foi realizado por um servidor que deveria ter sido elogiado, mas acabou quase punido por “abandonar seu posto” para realizar a apreensão. A reação oficial gerou indignação entre colegas.

Mais grave: o diretor da unidade, Renato Esperança Santana, “Renatinho”, não foi afastado. A empresa responsável pela alimentação, Cassarotti, em vez de punida, foi premiada com contratos milionários de cantinas e cestas de custódia.

Da omissão ao crime: furtos em Bangu 3

Em 6 de outubro de 2023, uma operação de revista em Bangu 3 terminou com nova revelação escandalosa. Durante a inspeção, bens de presos foram furtados: relógios, alianças, roupas de marca, tênis e até copos Stanley.

As câmeras internas flagraram o próprio diretor Renatinho, seu subdiretor Amorim e o motorista Severino transportando os objetos em sacolas pretas. As imagens mostram o trio dividindo o material em uma viatura oficial da SEAP.
O crime foi classificado como peculato. Mas, em vez de responsabilização, houve blindagem institucional.

O papel da corregedoria: de guardiã a cúmplice

Segundo os relatos, a corregedora Roseli Félix Vieira Costa excluiu Renatinho da investigação, ignorando provas incontestáveis. Mais: teria indicado um advogado ao diretor em troca de propina de R$ 30 mil.
Enquanto os subordinados foram indiciados, Renatinho permaneceu intocado. Em maio de 2024, em um escárnio à moralidade administrativa, foi reconduzido ao cargo de diretor do Presídio Nelson Hungria.

As provas incontestáveis

O relatório interno traz:

  • Imagens em HD das câmeras do complexo penitenciário;

  • Registros de entrada e saída de veículos;

  • Relatórios do centro de monitoramento comprovando o transporte e a divisão de bens;

  • Documentos oficiais da própria SEAP.

Apesar das evidências, parte dos bens só foi devolvida 16 dias depois, e apenas porque havia registros visuais comprometedores. Outros objetos nunca retornaram.

O sistema como negócio

O caso deixa claro que não se trata de episódios isolados, mas de um sistema criminoso institucionalizado.

  • Empresas contratadas pelo Estado (como a Cassarotti) aparecem em posição de favorecimento, mesmo após escândalos.

  • Diretores e subdiretores atuam como chefes de quadrilha.

  • A corregedoria, em vez de punir, age para apagar rastros e garantir imunidade.

Além dos nomes: a engrenagem do narco-Estado

Embora os personagens centrais do caso sejam Renatinho, Amorim, Severino e Roseli, limitar a análise a esses nomes é reduzir a gravidade do fenômeno. A blindagem, os contratos milionários e a recondução de figuras já flagradas em crimes revelam que:

  • O problema não é individual, é sistêmico: o esquema só funciona porque há proteção política acima dos diretores e corregedores.

  • As empresas contratadas pelo Estado são parte ativa do conluio, garantindo lucros milionários mesmo diante de flagrantes de irregularidade.

  • A alta cúpula do governo, ao permitir reconduções e não interromper contratos suspeitos, confirma sua participação ou, no mínimo, sua omissão deliberada.

Esse conjunto demonstra que os crimes não estão restritos às bases da SEAP, mas partem do mais alto escalão governamental e dos consórcios empresariais que orbitam em torno do Estado.

Conclusão: um Estado sequestrado

O escândalo da “Folia” revela como as estruturas estatais foram sequestradas por interesses criminosos. Não se trata apenas de desvio de conduta de servidores, mas de uma engrenagem que conecta cárcere, empresas e governo em uma rede de poder paralelo.

A cada nova denúncia abafada, a cada contrato renovado, o Brasil se aproxima da lógica de um narco-Estado consolidado, onde instituições oficiais não combatem o crime — elas o administram.

Linha do Tempo dos Principais Eventos

📅 17/09/2023Megaapreensão no Presídio Nelson Hungria (Bangu)

  • 70 celulares e 20kg de drogas encontrados em quentinhas.

  • Servidor responsável quase foi punido.

  • Nenhuma punição à empresa de refeições Cassarotti, que depois foi beneficiada com contrato milionário.

📅 06/10/2023Operação em Bangu 3

  • Revistas em presos apreenderam materiais ilícitos.

  • Preso Wendel dos Santos Gomes denunciou sumiço de relógio e aliança.

  • Câmeras flagraram furto/peculato por parte de Renatinho, Amorim (subdiretor) e Severino (escolta).

📅 17/10/2023Exoneração de Renatinho

  • Publicada no BI 192/2023, após confirmação de desvio de bens.

📅 25/10/2023Abertura de Sindicância

  • Portaria SEAP/SEI nº 3156.

  • Câmeras mostraram Severino retirando objetos em sacola preta, parte guardada em carro oficial.

  • Divisão de bens ilícitos entre Renatinho, Amorim e Severino (“ladrão furtando ladrão”).

📅 14/05/2024Corregedoria exclui Renatinho da investigação

  • Corregedora Roseli Félix Vieira Costa teria sugerido defensor “em troca de imunidade”.

  • Renatinho não foi incluído no processo, mesmo com provas.

📅 03/06/2024Publicação em D.O.

  • Indiciamento apenas de Severino e Amorim.

  • Renatinho ficou de fora da responsabilização.

📅 03/05/2024Retorno de Renatinho à Direção

  • Apesar dos escândalos, voltou ao cargo de diretor do Presídio Nelson Hungria (BI 079/2024).

📌 Resumo Visual (Sugestão de Linha do Tempo em Imagem):

  • Ícones para cada evento (📱 drogas, 🔍 revista, ⚖️ exoneração, 📝 sindicância, ❌ omissão, 📜 retorno ao cargo).

  • Linha cronológica de Setembro/2023 até Junho/2024 com os marcos destacados.

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